Por Clara Noir
Ela estava acostumada ao silêncio das férias. Ao eco dos corredores vazios.
Julho era o único mês em que a professora Helena desligava o mundo. Nada de provas, pais exigentes ou adolescentes em crise. Nada de salto alto, nada de batom escarlate. Ou quase.
Naquela manhã abafada de terça-feira, ela escolheu um vestido leve, quase translúcido sob a luz oblíqua que atravessava as janelas do sobrado. Andava descalça pelos tacos encerados da sala, com uma taça de vinho rosé na mão, ouvindo “Suzanne” de Leonard Cohen tocando num vinil antigo. A casa cheirava a lavanda e calor. Como ela.
A campainha soou de forma inesperada. Duas vezes.
Helena franziu o cenho. Ninguém jamais aparecia sem avisar.
Abriu a porta com certa hesitação — e lá estava ele.
Caio.
Dezenove anos, ex-aluno. Olhos fundos, corpo largo, moreno de pele marcada pelo sol e um sorriso que desafiava a inocência.
— Oi, professora. Desculpa aparecer assim… — ele disse, ajeitando a mochila no ombro. — Eu precisava conversar. Prometo que não demoro.
Ela hesitou. O vestido sem sutiã, a taça ainda pela metade, o cabelo solto, desleixado e sensual como só o descuido permite. Mas algo nela não recusou. Algo nela sabia.
— Entra, Caio.
Ele entrou. Ela fechou a porta atrás dele devagar demais.
—
— Eu… fico pensando nas suas aulas. Filosofia… as perguntas que a senhora fazia.
— SenhorA? — ela riu, olhando por cima da taça.
— Você. Desculpa. Você parecia… entender mais do que dizia.
— Eu entendo muita coisa, Caio. Só não falo tudo. Alguns não estão prontos pra ouvir.
Silêncio.
— E eu? Estou pronto?
Helena deixou a taça sobre a mesa.
— Você acha que está? — ela perguntou, virando-se devagar, ciente da leve transparência do vestido, dos contornos do corpo visíveis mesmo na sombra da sala.
— Desde o último semestre, eu… sonhava com isso. Com você.
Ela se aproximou, passos lentos, decididos. Parou diante dele e ergueu o queixo do rapaz com dois dedos.
— Sonhar é fácil. Você sabe mesmo o que fazer com uma mulher como eu?
— Não. Mas quero aprender. Com você.
A resposta foi exata. Quase ousada.
Helena sorriu, deslizou os dedos pela lateral do pescoço dele e murmurou:
— Então, Caio… preste atenção. Porque essa será sua primeira lição real.
E o puxou para o beijo.
—
Era um beijo quente, faminto, e ao mesmo tempo firme. Não havia hesitação em Helena, e aquilo desorientava o rapaz. Ela o empurrou contra a parede da sala, mordendo-lhe o lábio inferior antes de abrir os botões da camisa dele com os dentes. Os dedos dela já estavam em seu peito, descendo pela barriga até encontrar a cintura da calça.
— Tira. Ágora.
Ele obedeceu sem pensar. Ficou de pé, nu da cintura pra baixo, duro, pulsante. Ela o observava como quem analisa um experimento.
— Já vi muitos assim. Mas poucos com coragem de me encarar por inteiro — disse, deslizando os dedos pelas coxas dele até envolvê-lo. — Está suando. Nervoso?
— Um pouco.
— Isso é bom.
Ela se ajoelhou. E quando sua boca o envolveu, Caio gemeu alto. Helena sabia o que fazia. Sabia brincar com ritmo, língua, dentes. Sabia provocar sem entregar. Ele queria mais, mas ela segurava o controle. Tudo era lição.
— Nunca goze sem eu deixar — ela murmurou. — Nunca sem permissão. Entendido?
— S-sim…
Ela se levantou, o deixou tonto, levou-o pela mão até o sofá. Empurrou-o ali.
— Agora me assista.
E, diante dele, ergueu lentamente o vestido pela barra, revelando as pernas longas, a ausência de calcinha, o quadril redondo, os seios soltos sob o tecido. Virou-se de costas, desceu o vestido e o deixou cair.
Caio prendeu a respiração.
Ela andou nua até o vinil, virou o disco, e deixou “Dance Me to the End of Love” começar.
Depois caminhou de volta, sentou-se sobre ele — montando-o como quem se serve de um trono — e gemeu baixo quando o sentiu todo dentro de si.
— Agora cale a boca. E sinta.
E ele sentiu.
Sentiu o perfume da pele, o calor do corpo, a pressão do ventre. Helena o montava como uma deusa pagã, ritmada pela música, pelos próprios gemidos, pelo prazer de estar no controle.
As mãos dele tremiam em suas coxas. Mas ela não queria mãos trêmulas. Segurou os pulsos dele e os prendeu ao encosto do sofá.
— Firme. Ou paro.
Ele obedeceu. Ela então se moveu mais forte. Mais profundo. As unhas cravando nos ombros dele. Os gemidos mais altos. Ela gozou primeiro, estremecendo inteira sobre ele, mordendo o ombro do rapaz até deixar marca.
— Agora, goze. Dentro. Quero sentir.
E ele explodiu.
—
Mais tarde, ele estava deitado no tapete da sala, olhando o teto, ainda suado e com o coração disparado.
Ela apareceu com duas taças de vinho. Estava de novo vestida, como se nada tivesse acontecido, mas os cabelos emaranhados denunciavam.
— Quer mais vinho ou mais lição?
Ele riu.
— Se você for minha professora… quero repetir de ano.
Ela sentou ao lado dele, encostando a cabeça em seu ombro nu.
— Amanhã às dez. Segunda aula. E venha limpo. Corpo… e mente.
—
Lições de Julho não era apenas um nome bonito para um conto. Era uma promessa.
E Helena ainda tinha muitas lições a dar.