Doce Veneno: Capitulo 2

O Retorno Impossível

Ele voltou.

Não porque pudesse explicar o que acontecera, mas porque era impossível ficar longe dela. A mente dele estava tomada por um desejo que queimava mais que o absinto que ela sempre bebia.

Os dias anteriores tinham sido um borrão: não conseguia se concentrar no trabalho, evitava as ligações dos amigos, e mal tocava na comida. Tudo nele pedia Mirena — seu cheiro, o toque dela, o gosto ardente daquela taça que o queimava por dentro e o levava ao limite do prazer.

A chuva daquela terça parecia ecoar em sua cabeça enquanto ele atravessava a rua que levava ao bar. Tudo parecia igual: o prédio antigo, o bar no último andar, as paredes de veludo verde, a música de jazz suave que pairava no ar. Mas ele sabia que nada ali era o mesmo.

Ela estava lá. De costas para ele, o vestido preto delineando cada curva, a fenda revelando a pele macia da perna. A taça de absinto na mão, um convite silencioso para o perigo.

Ele sentiu o coração acelerar quando ela virou e sorriu para ele, um sorriso que falava de segredos e promessas perigosas.

— Seu corpo me aceitou melhor do que eu esperava — disse ela, a voz baixa, carregada de uma sedução quase tangível.

Ele tentou manter a compostura, mas a voz dele falhou:

— O que você fez comigo?

Ela se aproximou, o hálito quente tocando sua orelha, e sussurrou:

— Estou te transformando, devagar. Você ainda pensa que é humano?


A Festa dos Desejos Proibidos

Sem hesitar, ele a seguiu. A noite os levou até um galpão secreto na zona portuária, um espaço onde o tempo parecia parar e as regras do mundo desapareciam.

As luzes vermelhas pulsavam, refletindo-se nos corpos entrelaçados que se entregavam sem vergonha. O ar estava denso, impregnado pelo aroma pesado de incenso e pelo suor misturado ao desejo.

Mirena era a rainha daquele reino proibido. Os olhos dela brilhavam intensos, a pele iluminada pela luz rubra, revelando um corpo que parecia feito para dominar e seduzir.

Ele observou, fascinado, enquanto ela circulava entre os presentes, tocando-os, provocando-os, deixando um rastro de fogo e paixão.

Então, ela voltou para ele. Com um olhar que fazia sua pele arrepiar, ela deslizou a mão pelo seu pescoço, puxando-o para mais perto.

— Quero que veja o que eu realmente sou — murmurou.

Eles se afastaram do grupo e ela começou a mostrar seu lado mais sombrio. Suas unhas afiadas arranharam a pele dele durante o ato, deixando marcas vermelhas que ardiam como feridas abertas. Ele sentiu o sangue quente escorrer, e viu com fascínio quando ela lambeu o líquido com um prazer quase sádico.

— Quanto mais você me deseja, mais meu veneno se mistura ao seu sangue — disse ela, a voz rouca. — Você já está quase inteiro envenenado, amor.


Entrega e Transformação

Ele não resistia. Queria se entregar totalmente, ser consumido por aquele fogo que ela acendia em seu corpo e na alma.

Quando Mirena montou sobre ele, o peso do corpo dela, o balanço dos seios e o riso louco nos lábios eram hipnotizantes. Ele sentiu seu pau pulsar, ardendo dentro dela, enquanto ela o conduzia com uma mescla de doçura e crueldade.

Cada estocada era uma promessa de perdição, um convite para o abismo do prazer. Ele gemeu, deixando-se levar pelo transe que ela criava, até o momento em que o orgasmo o consumiu, deixando-o sem forças e entregue.

Quando finalmente desmaiou, sentiu que algo dentro dele havia mudado para sempre.


O Renascimento e a Sede

Três dias depois, ele despertou em seu apartamento. Sem marcas, sem feridas aparentes. Mas o cheiro dele era outro — intenso, selvagem, quase hipnótico.

Sob a língua, o gosto do absinto permanecia, uma lembrança constante da transformação.

Na porta, uma caixa pequena e elegante esperava por ele. Dentro, uma taça dourada, mais delicada e sedutora do que a primeira.

Junto, um bilhete com uma frase que arrepiou sua espinha:

“O veneno não mata. Transforma. Em breve, sentirá sede.”

Ele sabia que o desejo por ela não era mais apenas desejo. Era fome. Uma sede de algo muito mais profundo, de algo que iria consumir tudo o que ele era.

Por Clara Noir para o blog Noites Proibidas.
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