“Desejo Sem Medo”–Capítulo 1

 Portas Entreabertas

romance entre mulher madura e rapaz mais jovem

Aquela não era apenas uma mudança de endereço — era uma tentativa desesperada de deixar para trás os escombros da autoestima que desabou junto com seu casamento. Aos trinta e oito anos, Mariana não se sentia sequer próxima da imagem que o espelho mostrava. Cabelos bem cuidados, curvas generosas, olhar expressivo. Mas por dentro, tudo parecia vazio, como se o tempo tivesse levado sua juventude e deixado em troca o sabor amargo da rejeição.

Ela foi trocada. Simples assim. Por uma menina de dezenove anos, cheia de filtros no Instagram e conversas vazias. O marido sequer teve a decência de disfarçar: “Preciso viver algo novo”, ele disse. Novo, no caso, era o sinônimo de ingênuo, fácil de manipular, corpo firme e sem histórico de frustrações.

O novo apartamento ficava em um prédio discreto, numa rua tranquila da zona sul. Mariana escolheu aquele lugar porque não conhecia ninguém — e ninguém a conhecia. Recomeçar. Ainda que por dentro tudo ainda doesse.

No dia da mudança, entre caixas, móveis desmontados e um sentimento esmagador de solidão, ela conheceu Rafael.

— Precisa de ajuda com isso? — a voz dele veio atrás de uma caixa de livros que Mariana tentava arrastar sozinha pelo corredor.

Ela virou o rosto devagar e, por um segundo, hesitou. Um jovem alto, magro, com braços fortes e olhar firme. Usava uma camiseta simples, marcada pelo esforço físico, e calça jeans surrada. Nada nele parecia de um zelador comum.

— Ah, eu… sim. Obrigada. Está bem pesado.

Rafael sorriu de lado, pegou a caixa como se fosse feita de papel e a levou até a porta do apartamento.

— Sou o Rafael. Trabalho aqui no prédio. Qualquer coisa que precisar, é só chamar — disse, com um tom educado, sem excessos. — Bem-vinda.

Mariana agradeceu, meio sem graça. Ele tinha um jeito sereno que incomodava de tão gentil. E bonito. Jovem demais, claro. Devia ter uns vinte e poucos anos. O tipo de beleza crua que não sabe que tem — e, por isso, é ainda mais perigosa.


Nos dias que seguiram, Rafael sempre aparecia com alguma ajuda: uma lâmpada trocada, uma caixa esquecida, um puxador solto na porta do armário.

— Seu interfone estava com mau contato. Já resolvi — avisava ele com a mesma leveza.

Mariana, aos poucos, foi se permitindo pequenas conversas. Descobriu que Rafael estava no último ano de Engenharia Mecatrônica, que morava num quarto nos fundos do prédio reservado aos funcionários, e que trabalhava ali para pagar os estudos. Descobriu também que ele vinha de uma família tradicional, mas que tinha perdido tudo em um processo judicial mal resolvido.

— Meu pai confiou demais nas pessoas erradas — ele comentou, sem ressentimento. — Agora estou tentando construir o meu caminho.

Ela o admirou por isso. Pela postura, pela maneira contida de falar. Rafael não era como os outros rapazes da idade dele. Tinha maturidade no olhar. Sabia escutar. Sabia esperar.

 


Silêncios que Gritam

Naquela tarde chuvosa de sábado, Mariana o convidou para entrar. Ele estava no corredor, limpando os vidros do hall, quando ela lhe ofereceu café.

— Está frio… — disse ela, abrindo espaço para que ele entrasse.

Rafael aceitou. Sentou-se na ponta do sofá com a delicadeza de quem não queria incomodar. O apartamento ainda cheirava a tinta fresca, e alguns quadros permaneciam encostados na parede, esperando decisão.

— Você gosta de arte? — ele perguntou, apontando para uma tela inacabada.

Mariana ficou surpresa com o interesse.

— Pinto nas horas vagas. Ou pintava… fazia tempo que não tocava em nada.

— Deveria voltar. Isso aqui… — ele se levantou e tocou levemente na moldura com os dedos — tem alma.

Ela ficou sem resposta. Aquilo a tocou de um jeito inesperado.

Durante semanas, os encontros se repetiram. Rafael aparecia com frequência, ora para checar alguma manutenção, ora apenas para entregar correspondência. Mariana, por sua vez, começou a reparar demais nos detalhes dele: o jeito como coçava a barba por fazer, o cuidado com as palavras, o sorriso discreto.

Rafael também a observava. Mas nunca além da conta. Nunca de maneira vulgar. Admirava a firmeza do olhar dela, a forma elegante como se vestia mesmo em casa, o perfume leve que ficava no ar. Pensava nela o tempo todo, mas guardava o sentimento como um segredo inconfessável.

— Uma mulher linda, madura, interessante… nunca olharia pra mim desse jeito — repetia mentalmente.

Mariana, sozinha na cama, muitas vezes se pegava revivendo os gestos dele. O modo como falava devagar, como respeitava seus silêncios. Mas logo se culpava:

— O que um rapaz como ele iria querer com uma mulher que já passou dos trinta e cinco? Já fui esposa. Já fui traída. Já não tenho esse frescor de menina…


Uma tarde, ele apareceu com um projeto da faculdade nas mãos. Estava com dificuldade para programar um sensor de movimento para um sistema autônomo de segurança predial.

— Você disse que trabalhava com redação técnica, não foi? — ele perguntou, tímido. — Será que pode dar uma olhada? Preciso melhorar o relatório.

Ela adorou o pedido. Sentou ao lado dele no sofá, pegou o notebook e começou a revisar. O joelho dele tocava de leve na lateral da coxa dela. Um toque tão sutil quanto um sussurro. Mas para os dois, foi como se um raio percorresse a pele.

— Isso aqui está ótimo, só precisa reorganizar as ideias… — ela comentou, tentando não encarar os olhos dele de perto.

Ele observava o modo como ela lia, concentrada, mordendo levemente o canto da boca. Sentiu vontade de beijá-la ali mesmo. Mas se conteve. Porque, em sua mente, aquele desejo era impossível.

Ela também sentia. Mas jamais ousaria demonstrar. Porque, na cabeça dela, era um absurdo.

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<h2><b>Toques Inocentes, Desejos Guardados</b></h2>

As semanas passavam, e Mariana começava a se acostumar com a nova rotina. A dor da traição ainda estava ali, latejando como uma cicatriz recente, mas agora havia uma leveza no ar — algo que se confundia com a presença constante de Rafael.

Ele passava no fim da tarde, quase sempre com alguma desculpa — uma encomenda entregue, uma vistoria de rotina, ou um favor qualquer. Mariana, no fundo, esperava por isso. Esperava ouvir os passos dele no corredor, o som da voz grave, o sorriso tímido de canto de boca.

Naquela quinta-feira chuvosa, a luz caiu no prédio. Mariana tentou acender as lâmpadas da cozinha e percebeu que tudo estava apagado. Alguns minutos depois, Rafael bateu à porta com uma lanterna na mão.

— Tá tudo bem? Posso dar uma olhada no quadro de luz — ofereceu-se, educado como sempre.

Ela o levou até a área de serviço, e ele se agachou diante do painel de disjuntores. Mariana ficou observando o modo como ele se movimentava, com precisão, como se nada naquele mundo o apressasse. O cheiro da chuva entrava pelas janelas e havia algo de íntimo naquele silêncio compartilhado.

— Pronto — ele disse, levantando-se e limpando as mãos na camisa. — Já vai voltar.

Mariana sorriu.

— Você é mesmo um anjo da guarda.

Ele a olhou por um segundo a mais do que o necessário. Havia algo ali. Um desejo que crescia, sufocado entre o que podiam e não podiam dizer.

 


A Brecha no Silêncio

Na semana seguinte, Rafael apareceu com uma proposta.

— Estou desenvolvendo um protótipo de braço robótico para um dos projetos da faculdade… poderia testar aqui? É só montar no canto da sala, e vou levar depois para apresentar.

Mariana aceitou, curiosa. No sábado pela manhã, ele trouxe uma pequena estrutura com sensores e cabos, e ficou de joelhos no chão da sala, montando peça por peça. Mariana preparava café enquanto observava de longe.

— Você é mesmo muito talentoso — comentou ela, se sentando ao lado, enquanto ele ajustava um componente.

— É só dedicação mesmo. Não posso errar agora. É minha chance de uma vaga boa depois que me formar.

— Vai conseguir — ela disse, com firmeza. — Você é diferente, Rafael. Não é só inteligente. Tem… uma força calma.

Ele parou por um instante, encarando os olhos dela. Mariana percebeu. Havia tensão. Química. Mas também insegurança.

— Às vezes penso que estou muito longe do lugar onde queria estar — ele confessou.

Ela tocou levemente no ombro dele.

— Mas está no caminho certo. E isso é o que importa.

O toque dela demorou meio segundo a mais. O suficiente para que Rafael sentisse a pele arrepiar. E, por um instante, ele quase segurou aquela mão. Quase. Mas a ideia de estragar o que tinham o impediu.

 


Um Corpo no Escuro

Naquela mesma noite, a chuva voltou. A energia caiu de novo, e dessa vez todo o prédio ficou no escuro. Rafael bateu à porta, agora encharcado, com a camisa colada ao corpo e a lanterna fraca nas mãos.

— Está uma bagunça na caixa central — disse ele. — Posso ficar aqui até passar?

Mariana hesitou por um segundo. Depois abriu espaço. Ele entrou e tirou os sapatos perto da porta.

Ela trouxe toalhas, uma muda de roupa emprestada de um ex que havia deixado algo no armário. Rafael aceitou com gratidão, secando o cabelo com o pano.

— Você vai pegar uma gripe assim — disse ela, estendendo uma caneca de chá.

— Já tô melhor agora.

Ela riu.

— Você sempre tem resposta pronta.

Os dois se sentaram no sofá. A luz de vela jogava sombras suaves pelo apartamento. Havia uma tensão serena entre eles. E tudo parecia possível naquela penumbra íntima.

— Às vezes eu esqueço que você é só… um estudante — Mariana murmurou.

Ele a encarou com leveza.

— E eu esqueço que você é… tão linda.

O silêncio seguinte foi denso. Ela desviou o olhar. Ele percebeu que fora longe demais. Ou talvez… não?

— Desculpa — disse Rafael. — Não quis te deixar desconfortável.

— Não deixou — respondeu ela, baixinho.

Mas nada mais foi dito. E isso dizia tudo.

 


O Peso do Desejo

Nos dias seguintes, os encontros voltaram ao ritmo habitual. Rafael mantinha distância. Mariana não insistia. Mas dentro de ambos, o desejo criava raízes. Ele sonhava com ela. Literalmente. Acordava suado, com o corpo pulsando. Ela também sentia — no banho, ao lembrar do toque das mãos dele segurando a xícara; ao escutar a voz dele quando passava pelo corredor.

O problema era o mesmo: os dois achavam que estavam sós nesse sentimento.

— Ela nunca olharia pra mim como homem… — ele pensava.

— Ele deve me ver como uma figura de respeito, alguém madura demais — ela dizia a si mesma.

Mas havia brechas. Olhares demorados. Roupas mais leves, propositalmente escolhidas. Sorrisos tímidos com segundas intenções.

Até que, um dia, ele esqueceu o protótipo no apartamento dela. Voltou à noite para buscar. Mariana já estava de camisola, longa, acetinada, de alças finas.

— Me desculpa… não sabia que viria tão tarde — ela disse, surpresa.

Rafael ficou estático. Os olhos não conseguiam evitar os detalhes: o colo dela, os pés descalços, o perfume amadeirado que o atingiu como um soco.

— Eu… eu só vim pegar a peça — murmurou.

Ela pegou a caixa, entregou a ele. As mãos se tocaram. E dessa vez, nenhum dos dois recuou. Ficaram assim por segundos longos demais para serem acidentais.

 


Entre a Realidade e o Abismo

Mariana fechou a porta devagar após ele sair. Encostou-se na madeira e suspirou. O corpo inteiro tremia. Sentia-se viva como há muito tempo não se sentia. Mas ao mesmo tempo, culpada.

— Ele é jovem demais… eu devia saber o meu lugar.

Naquela noite, se tocou sozinha pela primeira vez em meses. O rosto dele na mente, a voz dele, o cheiro da camiseta esquecida no encosto do sofá.

Do outro lado do prédio, Rafael também não dormia. Encostado na parede do seu quarto simples, segurava a camisola dela na memória como se fosse algo sagrado. Também se tocou. Também se permitiu imaginar.

E foi nesse momento, separados por andares, mas unidos pelo mesmo desejo, que algo mudou. Nenhum dos dois sabia ainda, mas o próximo passo seria inevitável.

 

“Desejo Sem Medo”–Capítulo 2

 

Assinatura:
Escrito por Clara Noir – Para Noites Proibidas
Uso exclusivo para o blog.

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