Capítulo 2–A Noiva do Convento Negro

## Vozes na Pedra

### A Noiva do Convento Negro

O frio da madrugada atravessava as paredes espessas do convento de Santa Nocturna, mas Helena não tremia. Despertou em seu leito com os lábios ainda úmidos do beijo de Sor Magdalena. A lembrança não era apenas viva — era um ardor contínuo que percorria seu ventre, como se sua alma tivesse sido marcada por aquele primeiro rito secreto.

Ao redor, o dormitório permanecia silencioso, exceto pelo sussurrar das velas que jamais se apagavam. Em vez de adormecer, ela vestiu novamente o hábito negro e caminhou descalça pelos corredores sombrios. Cada passo a conduzia mais fundo no ventre de pedra do convento, onde o ar parecia pesado de segredos.

A porta da biblioteca estava entreaberta, e dentro dela, o vulto de Magdalena a aguardava. Os olhos da freira cintilavam à luz trêmula das lamparinas. Entre as mãos, ela segurava um livro de couro encadernado com símbolos eslavos e marcas de sangue antigo.

— Esta é a Vox Carnis — murmurou. — Apenas aquelas escolhidas pelas vozes da pedra podem lê-la em voz alta.

Helena avançou, hipnotizada. As palavras saltavam da página como serpentes, ondulando entre linhas sobre sacrifícios, êxtase e possessão. E assim, sua iniciação avançava. Palavras proibidas passaram por seus lábios, e com cada uma, sua pele parecia vibrar, como se o convento a escutasse e aprovasse.

## Ritos de Sangue e Sedução

### A Noiva do Convento Negro

Na noite seguinte, o chamado veio com o toque da sineta escondida no claustro. Helena seguiu Magdalena por uma escada oculta atrás do altar principal. As pedras se fechavam sobre elas como um túmulo vivo, e Helena soube que nunca mais veria o mundo da mesma forma.

Chegaram a uma câmara subterrânea circular, onde velas negras formavam um espiral. Ao centro, um leito de pedra rodeado por taças de prata cheias de vinho e sangue. Outras irmãs estavam ali, com os hábitos abertos, corpos nus e adornados com fitas rubras e símbolos desenhados com óleo.

Magdalena, agora apenas com um véu fino sobre o corpo, guiou Helena ao centro. Ali, deitada, ela deveria receber o “Selo da Promessa”. Cada toque era uma invocação. O óleo era espalhado por seu ventre, seios e coxas por mãos múltiplas, em gestos que misturavam desejo e devoção.

As palavras da Vox Carnis eram entoadas em uníssono pelas outras freiras, numa língua que mais parecia um feitiço ancestral. Helena sentiu uma presença surgir entre as sombras da câmara — não humana, mas antiga e masculina. Algo que sussurrava direto em sua carne, despertando nela um calor febril.

Ela arqueou o corpo, entregue, enquanto uma língua invisível percorria seu pescoço, e dedos etéreos se insinuavam entre suas pernas. O orgasmo que a tomou foi mais que prazer — foi uma oferenda. O teto de pedra pareceu se mover. As sombras aplaudiam. Santa Nocturna aprovará sua entrega.

## A Voz do Mosteiro

### A Noiva do Convento Negro

Após o rito, Helena passou dias em silêncio, seu corpo ainda sensível ao toque do vento e da pedra. As freiras a tratavam agora com reverência, oferecendo-lhe olhares cúmplices e toques breves durante os momentos de oração. Já não era mais uma noviça. Era parte da carne viva do convento.

Em seu leito, à noite, ela começou a ouvir vozes. Não as de freiras, mas vozes ancestrais que emergiam das paredes. Elas falavam com ela, contavam histórias de mulheres que há séculos haviam se entregado, assim como ela, ao prazer sagrado. Cada murmúrio lhe revelava mais sobre os segredos da ordem.

Foi numa dessas noites que uma nova figura apareceu em seus sonhos: uma mulher com véu vermelho e olhos de fogo. “O selo está quase completo”, ela dizia, “mas falta o sangue do desejo mais puro. Aquele que nasce do amor e da perdição”.

No dia seguinte, Helena encontrou Magdalena nos jardins internos. A freira parecia abatida, mas seus olhos ardiam de luxúria contida.

— Está pronta para conhecer o Mestre? — sussurrou ela.

O nome fez o ar gelar.

— Ele virá quando o véu for rasgado com prazer e entrega. Tu és a noiva, Helena. E tua lua se aproxima.

## O Corpo e a Cripta

### A Noiva do Convento Negro

Na cripta profunda sob a torre do sino, os últimos ensaios da iniciação aconteciam. Helena fora levada até lá pelas mãos de duas freiras silenciosas, cujos olhos nunca piscavam. Ali, em meio a relíquias douradas, pergaminhos ocultos e espelhos negros, ela fora instruída a despir-se diante da imagem da santa mártir: uma mulher de olhos vendados, com a língua estendida e o sexo aberto esculpido em pedra.

Helena ajoelhou-se, e entre salmos invertidos, sentiu-se tocada por uma força invisível. Sua pele formigava. As outras freiras se ajoelharam em torno dela, lambendo seu suor, desenhando runas com os lábios e soprando entre suas pernas.

No ápice do ritual, Magdalena se deitou com ela sobre o altar frio. Suas bocas se encontraram com fome, suas línguas entrelaçadas como serpentes. O sexo entre elas era uma dança violenta e delicada, feita de mordidas, gemidos abafados e espasmos sagrados.

Helena gritou o nome da santa, e no instante seguinte, os espelhos escureceram. O Mestre observava. A cripta tremeu. Estava próximo. Um perfume de resina e carne fresca invadiu o espaço.

## O Véu Rasgado

### A Noiva do Convento Negro

A última noite chegou como uma profecia. Helena foi conduzida por Magdalena em silêncio absoluto até o fundo do poço seco do convento, onde portas de ferro guardavam o acesso ao “Nocturnarium”, o santuário das noivas escolhidas.

Atravessaram corredores forrados de tapeçarias antigas, com cenas que misturavam êxtase e martírio. Ao centro de uma sala abobadada, havia um leito de mármore negro. Pétalas escarlates cobriam os lençóis de linho. Ali, ela deveria esperar pelo Mestre.

Magdalena selou a porta e deixou Helena sozinha com sua nudez, o corpo pintado em dourado e os olhos vendados. Quando a presença chegou, não houve dúvida. Não era humano. O toque era de sombra e fogo, os dedos como lâminas de desejo.

O ser percorreu seu corpo com reverência, e Helena gemeu com a boca entreaberta, sem resistir. O sexo aconteceu com violência e ternura, com silêncio e trovões. Helena foi possuída por inteiro — mente, corpo, alma. E quando o Mestre penetrou profundamente, ela chorou e riu, tomada por êxtase absoluto.

Ao amanhecer, ela sangrou pétalas. O selo estava completo. Ela era agora a Noiva do Convento Negro.


Assinatura:
por Clara Noir – Noites Proibidas

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