Conto exclusivo — 1 capítulo
Por Clara Noir para o blog Romance Vampiros
Ele só a via quando estava sozinho.
O espelho da sala, herança da avó, sempre lhe parecera banal até aquela noite em que, voltando bêbado de uma festa, parou diante dele e a viu pela primeira vez. Estava ali — nua, com a pele pálida, cabelos escuros sobre os ombros, os olhos como duas brasas líquidas e um sorriso de quem já conhecia cada suspiro seu. Mas o reflexo mostrava apenas ela. Ele mesmo não estava lá.
Assustado, pensou estar alucinando. Mas não conseguiu parar de encará-la. Ela não falava. Apenas sorria. Lentamente, levou os dedos aos próprios seios e os acariciou, com olhos fixos nos dele.
No dia seguinte, o espelho estava vazio.
Na segunda vez, ele esperou. Apagou todas as luzes, ficou nu, sentou-se diante do espelho, coração acelerado. Ela veio. Sempre vinha quando ele estava só. Desta vez, aproximou os lábios do vidro e, do outro lado, ela fez o mesmo. Um arrepio lhe percorreu a espinha.
— Quem é você…? — sussurrou.
A vampira abriu um sorriso mais amplo. Seus dentes brilharam por um instante. Depois, o gesto mais ousado: ela se inclinou, mostrando os seios com perfeição quase dolorosa, e lambeu o próprio pescoço como se preparasse o lugar exato para uma mordida.
Todas as noites, ele a esperava. Todas as noites, ela o excitava com gestos lentos e obscenos, mas nunca passava do vidro.
Até que ele não resistiu.
Empurrou o espelho com força. Gritou por ela. Tocou o vidro com as duas mãos — e foi puxado. Um arrepio percorreu o mundo real, e, por um instante, tudo ficou em silêncio.
Ele estava do outro lado agora.
Ela o montava, devorava seu pescoço com beijos quentes e mordidas doces. Seus gemidos ecoavam como sussurros em vidro partido. O espelho na sala ficou embaçado para sempre.
Ninguém mais o viu. Mas, às vezes, quando alguém passa sozinho por aquele cômodo… há dois reflexos no espelho.
Um homem nu, ofegante.
E uma mulher, ainda mais nua, sorrindo como se tivesse acabado de beber sua alma.
Por Clara Noir para o blog Noite Proibidas .
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