A Estranha do Quarto 11 Capítulo 1

A Hóspede que Ninguém Registrou

O Hotel Les Cyprès era uma construção antiga de pedras cinzentas e janelas altas, no interior esquecido da França. Situado entre colinas cobertas de pinheiros, vivia quase vazio for a da temporada, sustentando-se com poucos visitantes que preferiam silêncio ao luxo.

Era novembro quando Étienne chegou. Exausto, dirigira horas após uma reunião fracassada e uma briga por telefone com a ex. Não buscava conforto, só queria uma cama, um banho quente e distância do mundo. A recepcionista idosa entregou-lhe a chave com a delicadeza de quem serve o mesmo chá há cinquenta anos.

— Quarto 12. Segundo andar. Café às sete. — disse sem sequer olhá-lo nos olhos.

Enquanto subia os degraus rangentes, Étienne sentiu um arrepio. Não era medo, era outra coisa… Como se algo ali o observasse, suave como o toque de um véu.

O quarto era simples, mas limpo. Cama de ferro forjado, cortinas pesadas de veludo bordô, um espelho antigo acima da cômoda e a banheira encardida no canto. Ele jogou-se na cama sem nem tirar os sapatos, o corpo pesado, a mente tensa.

Despertou no meio da madrugada com uma sensação estranha. Um perfume no ar… almiscarado, feminino, morno. Quando abriu os olhos, ela estava ali.

Sentada na poltrona ao lado da cama, vestia apenas um robe branco entreaberto. A pele era clara como leite, os cabelos escuros presos de modo displicente. Ela sorria com uma calma que parecia não pertencer a este mundo.

— Você… quem é você? — balbuciou, o coração acelerando.

— Estou no quarto 11 — respondeu ela, com um sotaque indefinível e uma voz baixa como vento em vidro. — Mas o meu espelho reflete aqui.

Étienne piscou, confuso. Ela se levantou, o robe escorregando um pouco nos ombros. Pés descalços, passos silenciosos. Aproximou-se dele como se o conhecesse há anos.

— Você deveria estar dormindo, mas acordou. — disse, tocando seu rosto. O toque era frio, mas estranhamente prazeroso. — Agora, não vai mais conseguir sair daqui tão fácil…

Ela o beijou. E não foi apenas um beijo: foi um mergulho em algo escuro, lento, hipnótico. Ele não sabia seu nome, nem de onde viera, mas naquele momento só havia ela, e o quarto, e aquele perfume alucinante.

Quando abriu os olhos pela manhã, estava sozinho.

A poltrona estava vazia. O robe branco, dobrado sobre a cômoda. E o espelho… o espelho não refletia nada além da cama.

Na recepção, tentou perguntar sobre a hóspede do quarto 11.

— Senhor? O quarto 11 está em reformas desde março — respondeu a recepcionista, franzindo a testa. — Ele está trancado.

Mas ele tinha visto. Sentido. Tocou os lábios. Ainda podia sentir o gosto dela.

E naquela noite, ele voltou a vê-la.

Por Clara Noir para o blog Romance Vampiros.
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