Capítulo 1 – Quando o Desejo se Disfarça de Acaso

 


Quem somos nós?

Felipe, 28. Samara, 31. Casados há cinco anos. Vidas entrelaçadas por história, família e aquele tipo de paixão que sabe brincar com o tempo. Ela é filha de ingleses como eu. Vivemos bem. Conforto sem ostentação, tradição sem rigidez. Eu, negociante de antiguidades, conheci Samara por meio de seu pai, que morreu dormindo há um ano. Infarto fulminante. Desde então, a família tem sido outra — especialmente a mãe dela, Vivian.

Vivian tem 58 anos. Mas, honestamente, não parece nem de longe. Quando está conosco em público, confusões acontecem. Já chegaram a cumprimentá-la como “irmã” da Samara. Já disseram que ela e Samara são gêmeas. E olha… não é exagero. Eu vejo. Não é só aparência: o jeito também. Só que, diferente da filha, Vivian é… espontânea. Espirituosa. Um pouco ousada demais para o gosto das filhas.


Vivian e o medo da boemia

Quando o sogro morreu, passamos a visitar Vivian com frequência. A casa dela, grande, antiga, cheira a madeira encerada e chá. Durante um tempo, fiquei ali com Samara, até que a irmã dela, Ligia, voltasse da Itália para ficar com a mãe. Só que, na real, Vivian não precisava de ninguém.

Ela se mantinha viva. Muito viva. Tão viva que Samara e Ligia, com ar de preocupação, me confessaram certa vez: “Estamos com medo de que a mamãe volte a se jogar na boemia.”

Eu ri. Porque sim, a mãe delas é linda. Se não fosse minha sogra, e se eu fosse um, seria impossível não pensar. Mas não é esse o ponto. O que me espanta é a forma como Samara parece ignorar a própria semelhança com a mãe. Como se ela mesma não visse.

Já me peguei olhando para Vivian, com aquela saia curta demais pra idade (segundo alguns padrões, claro), e pensei: se fosse Samara, eu já estaria ajoelhado no chão. É essa a provocação que me ronda.

Mas não é desejo. É frustração. Reflexo de uma manhã qualquer em que minha esposa, com sua malícia costumeira, me provoca e foge.


O jogo de Samara

Samara sabe como me deixar à flor da pele. Nossa relação é cheia de códigos. Sabemos brincar com os limites. Às vezes, ela se recusa a por dias. Outras, me faz gozar só com palavras. E na manhã daquela viagem, ela fez pior:

Acordei com a boca dela no meu pau. Doce, quente, abusada. Me olhou nos olhos e disse: “Felipe, você tem um pau gostoso. Pena que não vai estar aqui hoje.”

E engoliu tudo. Inteiro. Até a base. Uma demorada, forte. Quase gozando, vi ela sair correndo do quarto, me deixando duro, com a porta aberta. Nua. Rindo.

Foi nesse momento que Vivian passou no corredor. Deu uma olhadinha de canto. Disfarçou.

Ou não.


A viagem forçada

Naquela tarde, enquanto terminava de preparar a documentação de um carro raríssimo para um cliente, Vivian apareceu na sala com um ar decidido.

“Felipe, eu vou com você nessa viagem.”

Ela nem perguntou. Só afirmou. Como se estivesse cansada da casa, do clima, do luto disfarçado em chá e poltronas floridas.

“Ok… vamos.”

Samara achou ótimo. Juro por Deus. Acho que nem pensou duas vezes. Qualquer outra mulher teria surtado. “Você vai viajar dez dias com a minha mãe? Sozinhos?” Mas não. Samara só sorriu, deu um beijo na testa da mãe e outro na minha boca. “Cuida dela, tá?”

Vivian estava vibrante. Não era uma fuga emocional. Era fome de vida.


O início do incômodo

No aeroporto, Vivian atraiu olhares. De novo confundida com minha esposa. E, no início, ela achou graça.

“Você tem uma mulher linda”, disse um homem ao meu lado.

“É minha sogra”, respondi.

Vivian riu. Mas, com o tempo, pareceu incomodada. Mais tarde, já na estrada, ela largou:

“Felipe, essa viagem não vai dar certo.”

Fingi não entender.

“Como assim?”

“Eu tava pensando em… sabe… arrumar alguém nessa viagem. Um homem. Um caso. Alguma coisa.”

“Entendo…” (Entendia mais do que queria admitir.)

“Tenho minhas necessidades, Felipe. Você sabe, né?”

“Sei, Vivian. Sei.”

Mas eu também estava em carne viva. Samara tinha me deixado como um fio desencapado. E a presença daquela versão madura, provocadora e sensual da minha própria esposa não ajudava.

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