A Estranha da Estrada


A Estranha da Estrada

 

A noite estava espessa, úmida, e o asfalto parecia engolir a luz dos faróis. Ele dirigia sozinho, com a sensação incômoda de que aquela estrada deserta se estendia mais do que deveria. Não havia placas, casas, ou qualquer sinal de vida. Apenas a escuridão, e o som constante do motor.

Foi então que a viu.

Uma mulher nua, de cabelos longos e negros, pálida como a lua, estava parada no acostamento. Seus pés descalços tocavam a terra seca como se não sentissem o frio da madrugada. Ela não se moveu quando os faróis a iluminaram, nem demonstrou surpresa.

Pelo contrário, parecia que já sabia que ele viria.

Ele freou, confuso. A imagem dela, tão for a de lugar, cravou-se em sua mente. Desligou o motor, sentiu o silêncio pesar. Saiu do carro.

— Você está bem? — perguntou, hesitante.

A mulher se virou lentamente. Seus olhos, vermelhos como brasas, se fixaram nos dele. Os lábios entreabertos deixavam escapar uma respiração lenta e ritmada, quase um convite.

— Estava esperando… você — ela respondeu, com uma voz tão baixa que parecia deslizar pela pele dele.

Antes que pudesse reagir, ela já estava diante dele. Não havia tempo para gritar, correr ou pensar. Apenas o frio que percorreu seu corpo. Apenas a boca dela, quente e faminta, tocando a sua pele.

E então, nada m

 – O Retorno à Consciência

Quando despertou, o carro estava parado no mesmo lugar. O relógio no painel indicava que haviam se passado apenas quinze minutos, mas para ele parecia ter dormido por horas.

O banco estava gelado. A porta do passageiro, aberta. E no ar, um perfume suave, quase doce, mas com um fundo metálico que ele não conseguiu identificar de imediato.

Tentou se convencer de que havia sonhado. Que aquela mulher — aquela estranha da estrada — não passava de uma ilusão causada pelo cansaço.

Mas então viu, sobre o banco, um fio de cabelo longo e negro, ainda úmido, como se tivesse acabado de ser lavado. E percebeu que seu pescoço ardia levemente, como se algo tivesse se fechado ali por alguns segundos.

Ele acelerou, tentando afastar o pensamento. A estrada parecia interminável, e embora não houvesse mais sinal dela, sentia-se observado.

– A Segunda Noite

Dois dias depois, não conseguiu resistir. Voltou àquela estrada, alegando para si mesmo que queria provar que estava errado, que nada daquilo havia acontecido.

A lua estava cheia. As árvores lançavam sombras tortas sobre o asfalto.

E lá estava ela.

No mesmo lugar. Da mesma forma. Nua, pálida, e agora sorrindo — um sorriso lento, que parecia saber exatamente o que ele faria.

— Você voltou — disse ela, como se estivesse recebendo um convidado esperado há séculos.

Ele sentiu o corpo estremecer. Não sabia se de medo ou desejo.

— Quem é você? — conseguiu perguntar.

Ela se aproximou, cada passo silencioso.
— Eu sou quem você sempre procurou… mas nunca encontrou — sussurrou, tocando seu rosto com dedos frios demais para aquela noite.

O beijo veio sem aviso, e o mundo desapareceu de novo.


– O Segredo da Estrada

Desta vez, quando despertou, estava no banco do passageiro. A estrada deserta diante do carro, o motor desligado. Ela, no banco do motorista, nua e imóvel, observando-o.

— Por que eu? — ele perguntou, sentindo um nó no estômago.

— Porque você estava sozinho — ela respondeu. — E porque vai voltar. Sempre volta.

Ele sentiu a pele arrepiar. Aquelas palavras não soavam como uma ameaça, mas como uma profecia.

— O que você quer? — arriscou perguntar.

O sorriso dela se ampliou. — Você já sabe.

Antes que pudesse reagir, ela abriu a porta, saiu, e se afastou pela estrada até desaparecer na escuridão.


– O Último Encontro

Dias se passaram. Ele tentou evitar a estrada, mas algo dentro dele queimava, implorando pelo retorno. Era como se a imagem dela tivesse se gravado em seu sangue.

Na noite em que cedeu pela terceira vez, sabia que não haveria volta.

Ela estava no mesmo lugar. E desta vez, estendeu a mão para ele.

— Venha.

Ele desceu do carro, sem hesitar. Sentiu o frio da madrugada envolver seu corpo, mas era o calor dela que o atraía.

Ela o guiou para dentro da mata, onde a escuridão era quase sólida. O som de seus passos parecia ecoar em um lugar fora do tempo.

No centro de uma clareira, ela o beijou de novo. Mas desta vez, não houve desmaio. Houve apenas a sensação de ser drenado, como se cada gota de vida fosse sugada lentamente, misturada ao prazer mais intenso que já sentira.

E, quando seus olhos se fecharam, ele soube que não despertaria mais.


A Estranha da Estrada – Capítulo 2

Por Clara Noir para o blog Noites Proibidas
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