Entre Portas e Silêncios
Conversas que Desarmam
O cheiro do café era sempre o primeiro convite. Rafael vinha antes de começar os reparos do prédio e, invariavelmente, terminava com uma xícara nas mãos, sentado à bancada da cozinha de Mariana. O que antes era casual, agora parecia ritual. E nenhum dos dois queria quebrá-lo.
— Você acredita em sorte? — ele perguntou certa manhã, mexendo o café.
— Acho que já acreditei mais — respondeu Mariana. — Hoje prefiro confiar em escolhas.
— Eu ainda me iludo com os acasos — disse ele, sorrindo. — Tipo ter batido na porta certa no dia da mudança.
Ela segurou o olhar por um segundo a mais.
— Você não bateu. Entrou — disse, com um tom suave, quase brincando, mas carregado de verdade.
Eles riram. Mas a tensão estava ali, crescendo como raiz sob a terra.
A amizade entre eles era íntima demais para ser casual. Ele já sabia as preferências dela no vinho, ela já notava as rugas de preocupação que ele disfarçava mal quando dormia pouco. Compartilhavam confidências como se já houvesse um histórico entre os dois — como se uma história estivesse sendo escrita a cada troca de olhar.
Mas ambos permaneciam calados quanto ao desejo.
Rafael se controlava. Sentia-se pequeno diante dela. Não pela idade, mas pela bagagem. Ela parecia completa, refinada, elegante — tudo o que ele, morador do quarto dos fundos e estudante apertado, não era.
Mariana também se calava. Temia parecer carente, frágil, iludida. Apesar dos olhos atentos, dos toques que duravam demais, e da forma como ele a fazia sorrir com coisas simples.
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Entre Códigos e Silêncios
Naquela noite de sexta-feira, ele levou o notebook. Estavam montando a apresentação final do projeto do braço robótico, e Mariana ajudava com a organização visual e revisão do texto técnico.
— Esse slide aqui pode vir antes… — ela disse, encostada no ombro dele.
Rafael só conseguia pensar na respiração dela perto da orelha.
— Você é boa nisso. Eu fico perdido com esse monte de texto — ele comentou, desviando o olhar da tela para o pescoço dela, tão próximo.
— É só prática… e você tem talento. Só precisa acreditar.
Ele virou o rosto devagar e, por um momento, ela também virou. Seus rostos ficaram a centímetros. Um silêncio que gritou. Mas nenhum dos dois teve coragem de ultrapassar a linha. Ainda não.
Rafael foi embora naquela noite com o coração pulsando como tambor. Mariana ficou no sofá por longos minutos, revivendo aquele quase beijo, aquele quase toque.
Ambos sabiam: estavam à beira do abismo.
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A Presença do Passado
Dois dias depois, Rafael subiu as escadas do prédio com passos apressados. Tinha algo a dizer — algo grande.
— Mariana! — chamou, batendo à porta com um sorriso no rosto, segurando a pasta com a proposta.
A porta se abriu. Mas quem surgiu do outro lado não era ela.
— Pois não? — disse um homem, de expressão fria e arrogante. Era o ex-marido.
Rafael congelou.
— Ah… desculpe, pensei que… — Ele engoliu seco. — Esqueci uma peça do projeto. Acho que está comigo. Foi mal o incômodo.
Saiu antes que o homem respondesse. O peito apertado, a garganta fechada. A imagem dele naquela porta era um soco.
— Claro. Óbvio. O que eu esperava? — pensou, sentindo o chão se abrir sob os pés.
Enquanto isso, Mariana estava no quarto assinando os papéis finais do divórcio. Ao voltar para a sala, encontrou o ex ao lado da porta fechada.
— Quem era?
— Ninguém. Um garoto aí do prédio. Deve ter se confundido.
Ela sabia que era Rafael. O coração disparou. Um frio subiu pelas costas. E sem entender por quê, sentiu culpa. Raiva. Medo de tê-lo perdido sem ter tido nada com ele.
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Memórias que Machucam
Naquela noite, Mariana não dormiu. A ausência de Rafael era um buraco no peito. Ela tentava se convencer de que era apenas preocupação, mas sabia que era mais.
Sentia falta dele. Do jeito que ele a olhava como mulher. Do cuidado. Do silêncio cheio de significado. Ela estava apaixonada. E, pela primeira vez, era um amor limpo. Sem medo.
Mas o passado insistia em assombrá-la.
As lembranças vinham em ondas:
— A vez em que o ex-marido chegou bêbado, cheirando a cigarro e cerveja, e exigiu que ela fizesse oral nele enquanto segurava sua cabeça com força. Ela chorou, mas ele não parou.
— A noite em que, sem aviso, ele a forçou no sexo anal. A dor foi tão intensa que ela ficou três dias sem conseguir sentar direito. E ele ainda riu.
— As tantas vezes que usava o corpo dela como se fosse propriedade, ignorando vontades, humilhações.
Ela suportava tudo porque acreditava que amor era isso. Porque tinha medo de ficar sozinha. Porque ele fazia ela se sentir menor.
Agora, livre, ela enxergava com clareza: aquilo nunca foi amor. Foi submissão.
E era por isso que Rafael a assustava. Porque ele não queria controlá-la. Ele a via. E isso a desarmava.
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Vazio Entre Dois Corações
Os dias passaram sem notícias. Mariana tentava focar no trabalho, na vida, mas tudo parecia opaco. As manhãs eram silenciosas. O café, amargo. O prédio parecia frio sem ele por perto.
Já Rafael evitava subir. Passava direto, sem olhar para o andar dela. O coração sangrava, mas a razão gritava: ela voltou com o ex. Era o esperado. Ele só tinha sido um delírio. Um jovem tolo se apaixonando por alguém que nunca seria sua.
Uma semana depois, eles se encontraram no hall. Por acaso.
Os olhos se cruzaram.
O tempo parou.
Nenhuma palavra foi dita. Mas tudo foi dito nos olhares.
Ela deu um passo. Ele hesitou. Ela não sorriu. Ele também não. Mas os olhos… ah, os olhos.
Ambos se aproximaram devagar, como se cada centímetro fosse uma confissão. O ar entre eles era um campo elétrico.
E então, ao mesmo tempo, num impulso que não cabia mais conter, se beijaram.
O Beijo Queimava
Foi um beijo com gosto de urgência. De libertação. De tudo que nunca disseram.
As mãos se encontraram no meio do caminho. Os corpos se colaram. Mariana sentiu o calor dele, a respiração acelerada, as mãos trêmulas. Rafael sentiu o perfume dela invadir sua pele como fogo.
O beijo era calmo e desesperado. Era doce e faminto. Era tudo o que guardaram em silêncio por semanas.
Quando se afastaram, ofegantes, ainda com os olhos grudados, ela sussurrou:
— Era você.
Ele tocou o rosto dela, ainda sem acreditar.
— E sempre foi você.
Não precisavam mais mentir pra si mesmos.
O mundo ao redor continuava. Mas dentro deles, tudo havia mudado. Ali, no corredor do prédio, onde tudo começou, começava também algo novo.
Um amor que não pedia permissão. Que não precisava se explicar. Apenas acontecer.
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Assinatura:
Escrito por Clara Noir – Para Noites Proibidas
Uso exclusivo para o blog.