Chegada à vila e o silêncio que fala
A vila parecia parada no tempo.
Cercada por montanhas cobertas de neblina, Vila Serra era o refúgio que Helena e Caio sempre sonharam. Tinham deixado a cidade atrás de um recomeço: ela, fotógrafa cansada do barulho urbano; ele, escritor buscando inspiração. A casa que alugaram era de madeira antiga, com um sótão envidraçado e uma lareira de pedra. O cenário era perfeito — ao menos à primeira vista.
Logo nas primeiras noites, o silêncio começou a pesar. O vento batia nas janelas com sons quase humanos. Era como se a vila sussurrasse histórias antigas a quem ousasse ouvir.
Foi numa dessas noites que Helena viu Lúcia pela primeira vez.
A mulher caminhava pela trilha que passava ao lado da casa, vestida com um xale escuro, os cabelos longos e soltos dançando com o vento. Não parecia notar que era observada. Mas, ao parar diante de um velho carvalho, virou o rosto.
Olhou direto para Helena, e sorriu.
A mulher da trilha e os olhos que hipnotizam
Nos dias seguintes, Helena tentou ignorar o que sentiu. Mas era impossível.
Lúcia morava numa antiga casa de pedra, no fim da vila, cercada por videiras e um portão de ferro coberto por heras. A vila dizia pouco sobre ela. “Mora sozinha… cuida das plantas… é reservada.” Mas a verdade é que todos pareciam temê-la.
Helena, ao contrário, sentia-se atraída.
Uma tarde, sob o pretexto de fotografar os arredores, passou pela casa de Lúcia. O portão estava entreaberto. Ela hesitou… mas entrou.
— Sabia que você viria. — A voz de Lúcia era firme e doce, como um vinho envelhecido.
Helena sorriu, surpresa.
— Vim só tirar umas fotos.
— Claro. — Lúcia se aproximou, sem pressa. — Mas fotos não revelam tudo. Às vezes, é preciso tocar.
O toque foi apenas um roçar de dedos ao entregar uma taça de vinho. Mas Helena sentiu o corpo inteiro estremecer. Aquela mulher tinha uma presença que parecia mexer com algo muito antigo e profundo nela.
Segredos e sussurros à beira da lareira
Naquela noite, Helena contou a Caio sobre o encontro.
— Ela é… diferente. Hipnótica.
Ele apenas riu, achando exagero. Mas os olhos de Helena denunciavam algo que nem ela sabia nomear.
Na noite seguinte, choveu. E, com o som da chuva, vieram sussurros.
Do quarto, Helena ouviu passos leves no andar de baixo. A lareira estava acesa, embora nem ela nem Caio a tivessem acendido.
Na poltrona, havia uma taça de vinho.
E o aroma… o mesmo do xale de Lúcia.
— Você também sentiu, não sentiu? — disse Caio, surgindo atrás dela, em voz baixa. — Essa presença… essa coisa…
— Sim. E não sei se quero fugir ou me entregar.
A tensão entre os dois crescia. Já não era apenas a vila. Era algo dentro deles, despertado por Lúcia. Algo que pedia mais.
O convite e a entrega ao desconhecido
Lúcia apareceu novamente — não na trilha, mas à porta da casa, com um manto negro e um olhar que parecia ver por dentro.
— Hoje, há vinho, lareira… e algo mais. Se quiserem.
Caio e Helena trocaram um olhar. O desejo estava ali, entre os dois, há dias, à flor da pele. E agora se materializava naquele convite.
A casa de Lúcia estava aquecida, iluminada apenas por velas e pela lareira. O vinho era intenso, como o clima. Ela os recebeu com um sorriso e sem palavras.
— Aqui não se fala muito — disse por fim. — Aqui se sente.
Lúcia se aproximou de Helena primeiro. O beijo foi lento, profundo. Helena gemeu baixo, sem culpa. O corpo, até então preso em normas, se abriu em uma nova linguagem.
Caio observava, fascinado. Quando Lúcia se virou para ele, puxando-o pela camisa, os três se tornaram parte de um mesmo ritual.
Três corpos, um só fogo
O tapete diante da lareira era grosso, de pelúcia escura.
Lúcia conduzia como uma sacerdotisa do prazer. Tocava com a ponta dos dedos, beijava onde o desejo pulsava, provocava gemidos e tremores.
Helena nunca havia se sentido tão viva. Tinha Caio entre suas pernas, a boca quente dele explorando seu prazer, enquanto os seios eram acariciados por mãos femininas e decididas.
Lúcia a penetrava com os dedos com uma firmeza que só quem conhece a anatomia do prazer feminino possui.
Caio também gemia, envolvido na boca de Lúcia, sem resistência, entregue.
Ali, não havia ciúmes, não havia culpa. Apenas corpos suados, interligados. Gritos abafados pela música da lenha estalando. Gemidos e tremores. Gozo em sincronia.
O despertar depois da chama
Quando o último suspiro se esgotou, os três permaneceram juntos, como parte de uma mesma respiração. Lúcia os observava com ternura.
— A vila é antiga. Aqui se vive de verdade. Mas poucos suportam.
Helena e Caio não disseram nada. Deitados, nus, à beira da lareira, sabiam que algo havia mudado para sempre.
Nos dias que se seguiram, o mundo parecia mais silencioso. Mas era um silêncio diferente. Cheio de camadas, de ecos.
Lúcia continuava ali, caminhando pela trilha, sorrindo.
E Helena sabia: a paz que buscavam nunca esteve na ausência de ruído, mas na presença do desejo mais sincero.
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Noites em Vila Serra – Capítulo 2: O Prazer que Ecoa na Montanha
Assinatura:
Por Clara Noir – para Noites Proibidas