O tempo passou. Mas a lembrança daquela noite queimava em cada parte do corpo de Gabriel.
Ele e Luísa haviam voltado à rotina. Mas algo havia mudado.
Ela o olhava diferente. Tocava diferente.
E às vezes, quando estavam transando, ela sussurrava no escuro:
— Você pensou nela agora, não foi?
E ele gelava.
— Não.
Mas mentia.
Luísa também sonhava. Às vezes dizia ter visto Ana Cláudia sentada no sofá da chácara. Outras vezes, dizia ter ouvido o som do robe caindo no chão. Um dia, chegou a confessar:
— Eu sonhei que estava entre nós dois. E você não sabia quem beijar primeiro.
— E o que você fez no sonho?
— Deixei vocês decidirem.
Ela estava se abrindo. E ele começava a entender. Luísa não era só inocência.
Ela queria sentir. Ver. Dividir.
Ou talvez… convidar.
—
Foi Luísa quem propôs.
— Vamos passar o próximo feriado lá na chácara.
— Só nós dois?
— Não. Quero chamar minha tia.
— Tem certeza?
Ela demorou a responder.
— Eu nunca estive tão certa de algo.
—
Ana Cláudia chegou à tarde. Com um vestido caramelo, óculos escuros e um lenço no pescoço.
Ela desceu do carro sorrindo, como quem já sabia o que aconteceria.
—Espero que vocês tenham vinho suficiente.
—Temos coragem. O vinho é só um detalhe — disse Luísa, com um sorriso cortante.
Gabriel sentiu o coração disparar.
—
Naquela noite, não houve jantares longos.
A tensão era densa. Silenciosa.
Luísa se serviu de vinho, caminhou até a tia e estendeu a taça.
—Obrigada por vir.
—Obrigada por me querer aqui — respondeu Ana Cláudia, olhando nos olhos dela.
As duas se tocaram pela primeira vez naquele gesto. Um dedo a mais ao entregar a taça. Um silêncio mais longo do que o necessário.
Gabriel assistia tudo. Respirando fundo.
Luísa se aproximou dele e sussurrou:
—Ela sabe que quero. Mas precisa ver que você também quer.
Ele a puxou para perto. Beijou o pescoço dela. Os ombros. A boca.
Luísa gemeu baixo, o corpo colando no dele. Mas os olhos dela… estavam voltados para Ana Cláudia.
—Você está nos assistindo? — perguntou Luísa.
Ana Cláudia sorriu, sentada com a taça nas mãos.
—Estou. E estou gostando.
Luísa saiu do colo de Gabriel.
Foi até a tia. Parou diante dela.
—E se eu disser que não quero mais só assistir?
Ana Cláudia se levantou.
—Então diga.
E Luísa disse:
—Quero você também.
—E ele?
—Ele já é meu. Agora eu quero você… conosco.
Ana Cláudia olhou para Gabriel.
—Você permite?
Ele assentiu, sem voz.
Ela soltou o lenço do pescoço.
—Então venha. Os dois.
—
O sofá foi pequeno demais.
Ana Cláudia os guiava como se tivesse sonhado com aquilo por anos.
Beijou Luísa primeiro — e Gabriel estremeceu. Era diferente.
Depois virou-se para ele. O puxou pela nuca. Mordeu-lhe o lábio.
—Você vai me possuir… enquanto ela nos assiste.
—E depois? — ele perguntou, ofegante.
—Depois… todos pertencemos a todos.
—
Luísa os observava com os lábios entreabertos, sentada na poltrona.
Tocava-se, gemia baixo, sem pressa.
Quando Ana Cláudia se deitou no tapete e puxou Gabriel para si, Luísa desceu e se ajoelhou ao lado.
—Posso? — perguntou à tia, tocando-lhe os seios com delicadeza.
Ana Cláudia assentiu.
—Somos um só agora.
E a noite virou um corpo só.
Três bocas. Seis mãos. Gemidos misturados.
Gabriel sentia a boca de Luísa em seu peito e os dentes de Ana Cláudia em seu pescoço.
As duas se beijavam por cima dele. E depois uma sentava sobre o seu rosto enquanto a outra o montava com fúria e entrega.
A madrugada parecia eterna.
—
Depois, os três ficaram deitados no chão.
Suados. Respirando juntos.
Luísa acariciava o cabelo da tia.
Gabriel beijava o ventre de Luísa.
Ana Cláudia sorria.
—Vocês aprenderam bem — ela murmurou.
—E agora? — perguntou Luísa.
—Agora… nós decidimos se isso foi um erro ou o início de algo maior.
—Você quer mais? — Gabriel perguntou.
Ela riu.
—Vocês ainda nem viram a quarta lição.
—
Continua…
“a presença da mulher madura como símbolo de poder e desejo vem crescendo na ficção contemporânea, como mostra este artigo.”
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Por Clara Noir para o blog Noites de Clara Noir.
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